Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Alberto Caeiro («Poema XXI»,
O Guardador de Rebanhos)
Si pogués rosegar la terra tota
i sentir-la talment un paladar,
una estona seria més feliç…
però no és sempre que vull ser feliç.
Adesiara cal que siguem infeliços
per tal de ser naturals…
No tot són dies de sol,
i la pluja, quan ja manca molt, es demana.
Per això em prenc la infelicitat com la felicitat
naturalment, com a qui no meravella
que hi hagi muntanyes i planes
i que hi hagi roques i herba…
El que cal és ser natural i tranquil
en la felicitat o en la infelicitat,
sentir com qui mira,
pensar com qui camina,
i quan cal morir, recordar que el dia es mor,
i que el ponent és bell i bella la nit que resta…
Així és i que així sia…